Arembi

Jorge Ailton lança "Arembi", terceiro disco de carreira, pelo selo LAB 344, com R&B repaginado

Conhecido por tocar com nomes como Lulu Santos, Mart'nália e Sandra de Sá, o músico carioca apresenta canções autorais que passeiam por diferentes vertentes da black music, com influências da MPB, Pop e funk

Release por Maurício Gouvêa

Jornalista e livreiro da Baratos da Ribeiro

A coisa vem de longe. Começou no fascínio pelo avô virtuoso, o celebrado saxofonista Moacyr Silva, que ia do jazz ao bolero sem perder a respiração. Depois, pelas mãos de João Nogueira, conheceu obatuque de verdade nas animadas rodas do Clube do Samba. Nos anos 80 viu seu pai, Ailton Silva, presidir um dos clubes cariocas mais intimamente ligados a resistência negra, o Renascença Clube, berço de bailes que fizeram história na cidade. E quando o funk, o R&B e o soul de Michael Jackson, Prince, Earth, Wind & Fire, Hyldon, Cassiano e Tim Maia invadiram o seu toca-discos, foi aí que o jogo virou de vez. E quem tem nome de um santo guerreiro é abençoado, dá as cartas, quebra a mesa.Salve Jorge e seu disco cativante, que já começa com um título genial: "AREMBI".

Arembi é bumbo no chão, contrabaixo que pulsa. Arembi é só delícia, faz perder a noção. Neologismo que traduz, com perfeição, as intenções do álbum: R&B repaginado de um jeito muito particular, com tarja made in brazil, ou melhor "Brasil", com "S". Ao se apropriar da música negra como parte de sua história de vida, Jorge Ailton chega ao seu terceiro disco solo revisitando a si próprio, ele que, no início dos anos 2000, fazia seu bailão com a banda FUNK U pelos bairros do Rio de Janeiro.

A primeira frase que Jorge canta no disco é sintomática: "Preste atenção, vou me revelar". A partir dela, o novo trabalho pega o ouvinte pela mão para um passeio por várias vertentes da chamadablack musicterreno que o artista conhece como poucos. Tem funk "racha assoalho", "Coadjuvante", que poderia tranquilamente figurar no repertório de Rick James nos anos 70; o "quase samba, quase soul" de "Deliciosamente", que emula a fusão carioca da Banda Black Rio; o charme suburbano de "Sansara" e da faixa-título "Arembi"; o funk melody "Isso que não tem nome", onde a dupla Claudinho e Buchecha "nadaria de braçadas" nos anos 90; baladas soul clássicas em "Terceiro Sinal" e "Sine Qua Non"; e um soul eletrônico, "O início", que faria Justin Timberlake dançar muito. Sobra até para um pop sessentista, ao melhor estilo Rita Lee & Roberto de Carvalho, em "Não necessariamente nessa ordem", que Jorge, cheio de bom humor, define como "milk shake com hamburguer e banco colorido".

Tudo isso foi amarrado com precisão e talento por Fael Mondego, produtor que, mesmo lançando mão de tantos recursos eletrônicos, consegue deixar o disco com uma atmosfera absolutamente orgânica. Instrumentos acústicos (Violões de 6 e 12 cordas, guitarra "jazzy", o baixo preciso do próprio Jorge e um naipe de metais da pesada, com arranjos inspirados de Filipe Rasta) dialogam harmonicamente com as programações... E, como diria Chico Buarque, "palmas para todos os instrumentistas" que fazem a festa neste trabalho: Claudio Costa, Rodrigo Tavares, Marcos Kinder,Diogo Gomes, Julio MerlinoWanderson Cunha, Donatinho, Cesinha, Gustavo Corsi, Gê Fonseca, Lilian Valeska, Flavia Santana e Lourenço Monteiro.

O conceito do álbum pode ser resumido na faixa "Bate e volta", um "mantra soulde letra curta epapo reto em parceria com Alexandre Vaz. Da Lei da Física ele traz a mensagem "quem pratica o bem recebe de volta o bem". Sua simplicidade é abastecida com alta octanagem de positivismo, fazendo dela uma das grandes faixas do disco, um estímulo à dança ao melhor estilo de hinos como "Podes crer, amizade", de Toni Tornado, ou "Respect Yourself" das Staple Singers.

E quando o Jorge abre mão das palavras, seus parceiros letristas mostram que entenderam bem o recado. Fernanda Abreu (em "Deliciosamente") e Mila Bartilotti (em "Sine Qua Non") revelam o lado bom de um relacionamento que se acaba; Hyldon (mais um ídolo que virou parceiro) cria em "Caroço" uma personagem bem carioca que leva o astral da faixa lá prá cima; Ronaldo Bastos esbanja sensualidade e bem viver em "Sansara"; e Lourenço Monteiro cria em "O Início" um discurso que Jorge entende com a relação viva dele próprio com a música que faz: "um vício". Isso sem falar em "Arembi", letra onde o mestre Lulu Santos reproduz a emoção de se ouvir o R&B pela primeira vez. Um verdadeiro convite ao deleite.

De "Arembi" (que abre o álbum) a "O Início" (que fecha o trabalho, com a provocação de recomeço), o disco representa a estrada que Jorge vem percorrendo ao longo de quase 20 anos de uma carreira em que se divide entre o acompanhante de diversos nomes importantes da música nacional e internacional e o artista, que chega em 2017 cheio de histórias prá contar. Melodias criativas, letras ótimas ("Coadjuvante" é um achado!) e cantor de voz cada vez mais apurada, indo do grave ao falsete com muita naturalidade.

Em tempos onde o single dá o tom nas plataformas digitais, vale a pena parar pra ouvir um álbum tão coeso, musicalmente variado e de raízes tão brasileiras. O "AREMBI" de Jorge Ailton veio pra ficar. Preste atenção.

Arembi

Tracklist

1 - Arembi (Jorge Ailton e Lulu Santos)

2 - Coadjuvante (Jorge Ailton)

3 - Isso que não tem nome (Jorge Ailton) - clipe

4 - Terceiro Sinal (Jorge Ailton)

5 - Caroço (Jorge Ailton)

6 - Deliciosamente (Jorge Ailton/Alexandre Vaz/Fernanda Abreu)

7 - Bate e volta (Jorge Ailton/Alexandre Vaz)

8 - Sansara (Jorge Ailton/Ronaldo Bastos)

9 - Sine qua non (Jorge Ailton/Milla Bartilotti)

10 - Não necessariamente nessa ordem (Jorge Ailton)

11 - O início (Jorge Ailton/Fael Mondego/Lourenço Monteiro)

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