Canções em Ritmo Jovem

Talento e carisma são conceitos difíceis de explicar, mas fáceis de reconhecer. Jorge Ailton é um desses casos. Cantor, compositor, baixista e violonista, esse carioca do Méier causa sempre a mesma reação em quem o escuta e vê no palco, acompanhando com seu baixo incrivelmente grooveado o rei do pop Lulu Santos. Pescoço virado, ouvidos atentos, olhos bem abertos, é normal o expectador se espantar com Jorge Ailton: “Opa! Aí tem!”. E tem.

CANÇÕES EM RITMO JOVEM, o segundo disco de Jorge Ailton, tem um monte de músicas boas. Treze, para ser mais exato. Doze no CD físico e Au revoir, arrivederci (Jorge Ailton/Rodrigo Bittencourt) que só estará disponível no formato digital. A sensibilidade pop que já ficara clara no CD de estreia, “O ano 1” (2010) ressurge mais madura e polida em CANÇÕES EM RITMO JOVEM. “Vida pequena de um grande amor”, parceria com Ronaldo Bastos, talvez seja o exemplo mais cristalino desse amadurecimento musical. Uma viciante balada soul - em que fica flagrante a influência de Cassiano, Hyldon e Tim Maia na formação de Jorge Ailton - conta com belo arranjo de cordas de Maycon Ananias. Lírica, épica, com jeitão de clássico, encerra em seus versos uma verdade indiscutível: “Gostar de alguém muda tudo”.

E é curioso falar em maturidade a respeito de um álbum que nasceu de uma brincadeira juvenil. Literalmente. Título e conceito do disco surgiram durante as gravações. “Eu e Alexandre Vaz (produtor do CD, guitarrista do Cabeza de Panda e da banda de Marcelo D2) estávamos ouvindo muita coisa de Mark Ronson e Cee Lo Green”, conta Jorge Ailton. “E nós íamos compondo influenciados por esse som, uns riffs meio boogaloo, aquele rock meio r&b dos anos 1960”. E, a cada nova ideia ou canção, a dupla exclamava: “Essa ficou bem jovem!”. Daí veio o conceito do disco: “ritmo jovem”. Mas ritmo jovem com feeling e atmosfera retrô, como se a dupla de produtores estivesse descobrindo esse som há 50 anos em algum porão de Londres ou garagem da Califórnia. A partir dessa base r’n’b/boogaloo meio ingênua, as músicas ganharam camadas contemporâneas, seja por conta de efeitos e timbres dos instrumentos, seja pelas letras e melodias, estas nada ingênuas.

E esse contraste entre trabalho musical de gente grande construído a partir de um conceito “jovem” é o que torna resultado delicioso.

Gravado em torno do núcleo de músicos formado por Alexandre Vaz (guitarra, programação de bateria, vocais), Lourenço Monteiro (bateria, também integrante do Cabeza), Rodrigo Tavares (teclados) e o próprio Jorge Ailton no baixo, CANÇÕES EM RITMO JOVEM conta com algumas participações bem especiais. Lulu Santos, parceiro em “Chega de longe”, canta na segunda parte da canção, um dos destaques do CD. Refrão ganchudo, guitarra funky de Fernando Vidal e bateria quebra-cabeça de Lourenço Monteiro. Dado Villa-Lobos, aquele guitarrista de uma tal de Legião Urbana, empresta seus ruídos à soturna “Sustentável”, que encerra o CD.

“Criança”, de Marina Lima, é o único cover do disco. Jorge Ailton, Cesinha (bateria) e Rodrigo Nogueira (guitarra) e Rodrigo Tavares (ótimo solo de órgão hammond) desconstroem o sucesso lançado pela cantora no LP “Marina Lima”, de 1991. O resultado é hipnótico.

Além de Lulu Santos e Ronaldo Bastos, Kassin (produtor, baixista, guitarrista e onipresente) contribui com uma parceria em CANÇÕES EM RITMO JOVEM: “Uma noite fria” tem clima entre o psicodélico dos 1960 e o glam rock dos 70, salpicado pelo würlitzer de Rodrigo Tavares. “Dó”, funk nervoso, é outra que deixa flagrante os anos de formação musical de Jorge Ailton à base de muito charme nos bailes do Clube Vera Cruz, no bairro carioca da Abolição.

A trajetória musical de Jorge Ailton começou dentro de casa, no subúrbio do Méier. Seu avô, Moacyr Silva, saxofonista e maestro que gravava sob o pseudônimo Bob Fleming e chegou a trabalhar como produtor para Elizeth Cardoso, plantou a semente. Samba, soul, rock, r&b, funk e pop formaram a persona musical. Aos 13 anos, começou a estudar violão com Carlinhos Delmiro, irmão do monstro Hélio. Dois anos depois, passaria para o baixo. E que baixo...

Com trabalho duro, ralação em gigs, Jorge Ailton começou a chamar a atenção como baixista: preciso, grooveado, melódico, com voz própria. Mas tinha mais no pacote: um excelente cantor e um compositor com profundidade, aliada a uma pegada pop. O trabalho como baixista e cantor na banda Funk U (uma joia do soul carioca que passou debaixo do nariz das rádios nas duas décadas passadas) e como músico das bandas de Sandra de Sá, Mart’nália, Zé Ricardo, Toni Garrido e Paula Toller ajudaram a amadurecer seu talento. Hoje, além da carreira solo, Jorge Ailton é baixista da banda de Lulu Santos.

E é um compositor positivo e operante. Jorge Ailton tem parcerias com Hyldon (“Revanche”, gravada por Leo Maia), além de inéditas com Paula Toller, Fernanda Abreu, Lulu Santos, Kassin e Ronaldo Bastos. Ou seja, vem mais por aí.

Gravado no 1º semestre de 2012 nos estúdios Universo Fantástico, Rock it, Mega e Cia. Dos Técnicos CANÇÕES EM RITMO JOVEM foi produzido por Alexandre Vaz e co-produzido por Jorge, mixado no inverno de 2012 no estúdio Fábrica de Chocolate, por Damien Seth e masterizado em Janeiro de 2013 no estúdio Magic Garden Mastering por Brian Lucey.

Além de compiladas num CD independente, distribuído pela Tratore, CANÇÕES EM RITMO JOVEM estará disponível para download na loja da Apple, iTunes.

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